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13-06-2025

Brasil amplia fronteiras agrícolas com conversão de pastagens degradadas

O Brasil possui uma das maiores áreas de pastagens do mundo, o que representa uma oportunidade para o uso mais eficiente da terra por meio da agricultura. Segundo dados do MapBiomas referenciados em 2023, o país possui 164 milhões de hectares de pastagens, dos quais uma parcela significativa é considerada degradada ou subutilizada.

Entretanto, a conversão das áreas de pastagem não é simples e exige o cumprimento de múltiplos critérios agronômicos e ambientais, como fertilidade do solo, relevo e capacidade de mecanização agrícola, regime hídrico e logística para os insumos e escoamento da produção.

Com a finalidade de mapear terras agrícolas e recursos naturais, a Embrapa conduziu um trabalho de pesquisa que identificou 28 milhões de hectares de pastagens com níveis de degradação entre intermediário e severo que apresentam potencial para a implantação de culturas agrícolas, levando em conta restrições como terras indígenas e assentamentos quilombolas, áreas com alta prioridade de conservação da biodiversidade, infraestrutura, como distância entre as principais rodovias e disponibilidade de armazéns, áreas agrícolas atuais e as informações disponibilizadas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático. Os estados com as maiores áreas aptas para conversão são Mato Grosso (5,1 milhões de hectares), Goiás (4,7 milhões de hectares), Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de hectares), Minas Gerais (4,0 milhões de hectares) e Pará (2,1 milhões de hectares).

O sucesso da conversão da pastagem em lavoura de grãos depende diretamente do diagnóstico e do manejo adequado das características, físicas, químicas e biológicas do solo e, dependendo do nível de degradação da pastagem, há necessidade maior de utilização de insumos, como calcário e fertilizantes e de operações mecanizadas, como descompactação e nivelamento do solo.

Ao considerarmos os custos médios por hectare dos clientes do programa Reverte, parceria entre Syngenta, The Nature Conservancy e Itaú BBA, que visa aliar a expansão da produção agrícola com a conservação da vegetação nativa e recursos naturais no Cerrado, chegamos em uma necessidade de investimento total de cerca de R$ 482,6 bilhões para a conversão dos 28 milhões de hectares de pastagem para soja.

A incorporação de 28 milhões de hectares para a produção de soja representa cerca de 59% de aumento sobre os 47,5 milhões de hectares atuais, ou 34% sobre os 81,7 milhões de hectares de grãos estimados pela Conab na safra 2024/25.

Considerando a área por UF identificada no estudo da Embrapa e a produtividade média estadual da Conab para a safra 2024/25, chegamos em uma produção potencial de 104,7 milhões de toneladas de soja. Em termos absolutos, o aumento de aproximadamente 105 milhões de toneladas equivale a adicionar mais de duas safras do Mato Grosso, que produz cerca de 47 milhões de toneladas, ou duas Argentinas, elevando a oferta potencial para algo em torno de 275 milhões de toneladas de soja.

Com a possibilidade da realização da segunda safra, projetamos uma produção potencial para o milho, considerando a área potencial de soja por estado, a relação de área milho/soja média das últimas dez safras e a média de produtividade por UF para o milho 2ª safra. A partir dessas premissas, chegamos em um potencial de crescimento da área de milho 2ª safra do Brasil de 10,2 milhões de hectares, baseado nos 28 milhões de hectares de soja e, claro, mantida a proporção atual de participação do milho em cada estado. O incremento potencial da produção seria de 52,8 milhões de toneladas.

Portanto, considerando o potencial de produção a partir da conversão dos 28 milhões de hectares de pastagem, teríamos soja e milho, somados, adicionando aproximadamente 158 milhões de toneladas (soja 104,7 e milho 2ª safra 52,8 milhões de toneladas). Comparando a safra atual dos dois grãos, de 300 milhões de toneladas (soja 170 milhões de toneladas e milho 130 milhões de toneladas), esse volume (158 milhões de toneladas) representaria um incremento de 52% na produção.

Além do sentido econômico e ambiental no médio-longo prazo, há outros ganhos que acompanham a decisão de converter áreas degradadas em lavouras, como o potencial de valorização da terra. Essa conversão costuma vir acompanhada de significativa valorização do ativo fundiário. Na média nacional, terras de lavoura valem cerca de 2,4 vezes o preço de terras de pastagem equivalentes.

Ao cruzarmos os dados de pastagens disponíveis por UF com os preços de terras, foi possível identificar um potencial de valorização das áreas de R$ 904,7 bilhões. Adotando uma taxa de câmbio R$/US$ de 5,75, conforme projeção da área de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco para 2025, teríamos US$ 157,3 bilhões de potencial de valorização dos 28 milhões de hectares passíveis de conversão no Brasil.

Os exercícios e análises aqui apresentados servem como uma referência de ordens de grandeza, dado que muitas variáveis podem influenciar esses resultados. De qualquer forma, os números ajudam a mostrar a oportunidade de alavancar, simultaneamente, ganhos econômicos, ambientais e sociais com a conversão de pastagens degradadas, ainda que alguns desafios, como ampliação do acesso à crédito, expansão da assistência técnica, capacitação no campo e monitoramento eficaz pós-conversão, necessitem ser superados.

Fonte: Consultoria Agro Itáu BBA

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